sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Por que chamamos a hora do almoço de “hora da boia”?

Ginho de Souza

Você já notou que no dia a dia, nós nos valemos de expressões que julgamos corriqueiras e de fácil entendimento para definir uma ideia, porém sem sequer nos preocuparmos em saber de onde e como surgiu tal frase ou palavra? No universo prisional então, isso acaba sendo uma constante, principalmente para os agentes de segurança penitenciária que, por força da função, lidam diretamente com os presos. Eles [agentes] têm de decifrar um dialeto paralelo à sociedade que é usado pelos internos, com uso demasiado de gírias.  

A história conta que no Brasil de décadas passadas – mais precisamente na então Penitenciária de São Paulo (que era de população masculina, atual Feminina de Sant'Ana), diante da rigidez imposta no cárcere, onde os presos eram proibidos até de conversarem entre si, eles desenvolviam várias outras formas de comunicação, algumas não verbal, como o “abano”, por exemplo.

Alguns chegavam até a “namorar” vários anos com presas da penitenciária feminina, que fica pelo menos a 200 metros de distância uma da outra, sem nunca tê-las visto ou tocado. A técnica consistia em trocar as letras do alfabeto em números de vezes que se abanava um pano. O detalhe é que ninguém podia “abanar” com o abano do outro ou, trocando em miúdos, ninguém podia “falar” com a namorada do outro.

No livro Código de Cela - o Mistério das Prisões, o pedagogo e profundo conhecedor do sistema prisional paulista, Guilherme Silveira Rodrigues, além de contar histórias antológicas que viveu ao longo do tempo em que trabalhou (e ainda trabalha) em penitenciárias de São Paulo, também define alguns termos e palavras criadas no cárcere e que muitas vezes saíram dos parâmetros da prisão para serem usadas à revelia em nosso cotidiano. O glossário, se é que podemos assim definir, traduz expressões como: pão (esse pãozinho francês que compramos na padaria) era chamado de marroco na prisão; o vaso sanitário, por exemplo, ainda é conhecido como “boi”, um simples recado anotado em papel chama-se “pipa”... e por aí vai: café é moka (em referência à famosa marca do produto), viatura é bonde, etc.

Dentre tantas esquisitices, o que chama a atenção é a palavra “boia”.  Mesmo quem não está preso sabe que a hora da boia é a hora do almoço. Mas por que boia? De onde e como surgiu esse termo para denominar alimento ou hora de se alimentar? Em uma pesquisa rápida, consegui algumas explicações que, se não eliminam a dúvida por completo, ao menos dão algumas pistas para que formemos uma opinião.

O dicionário Michaelis é pragmático ao descrever boia como “Corpo flutuante destinado a marcar o lugar de qualquer coisa submersa, como, por exemplo, uma âncora, ou destinado a indicar perigo, ou passo difícil; Pedaço de cortiça, nas redes de pesca, para que não afundem; Qualquer comida”.

O wiktionary diz que “A origem do termo vem da comida servida nos quartéis, prisões ou campanhas militares – há relatos de que foi servida na Campanha de Canudos – e que continha feijões mal cozidos ou podres e que por isso ficavam boiando no prato ou cumbuca. Então ‘boia’, quando utilizada no sentido de comida, tem sua origem na imagem de um prato de comida com feijões boiando”.

Outra análise curiosa vem do site de etimologia Origem da Palavra: “Boia viria do Latim BOIA, ‘tala de couro’, de BOVIS, ‘boi’, usada para designar todo gênero de amarras e laços. Passou a designar também a bola de ferro ou madeira usada para dificultar o deslocamento dos presos nas galés¹. Havia gente tão infeliz que se oferecia para esse trabalho horrível apenas em troca de comida e abrigo; eram chamados de ‘banaboias’. Esta palavra passou a significar “tolo, estulto, abobado”, pois representava uma pessoa que achava boa aquela comida. Daí a ideia de boia como comida, alimentação”.

Porém, a explicação mais interessante e que se encaixa perfeitamente no contexto penitenciário fala de uma presiganga² e está no livro História das prisões no Brasil: “A nau³ Príncipe Real, inutilizada para o serviço de combate e desarmada, passou a ser usada como prisão, depois de transportar de passagem a Rainha Dona Maria I e o príncipe regente Dom João, por ocasião da transferência da Corte portuguesa para a colônia da América em 1807”.

O texto explica que nas primeiras décadas do século XIX, a Santa Casa de Misericórdia fornecia assistência alimentar aos presos e os alimentos eram transportados do continente para a embarcação, em caldeirões sobre boias.
Fica a sugestão para pesquisar ou simplesmente refletir
GS é jornalista

¹Tipo de embarcação movida a remo onde pessoas eram condenadas a trabalhos forçados, muito usada a partir do século VI
²Navio usado como prisão, ou que recolhe prisioneiros
³ Grande embarcação de guerra ou mercante
Fontes:
Livro: História das prisões no Brasil
Autor    Clarissa Nunes Maia

Editora Rocco, 2009

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em outras palavras




Em momentos é intensidade, alta tensão, calor de fundição, aço derretido
Tudo ao mesmo tempo
e se desenha alta velocidade e turbilhão
Ideias liquidificadas, centrifugadas, mosáico

Em outros é serindade, bonança,
céu de estrelas apreciado da rede que balança na varanda em noite de verão
Riacho tranquilo que desliza desviando de pedrinhas lapidadas pelo tempo

As vezes, mesmo irritada, é fera que não assusta
que não interpreta o papel
que não incorpora o mal em um coração que não permite tal sentimento dentro de si

De vez em quando se revela tempestade ameaçadora
de nuvens negras e ventos de açoite e
se assim não for, de outro modo não será

Ri, chora, entende, compreende, não entende
diz, silencia, acalanta, critica, elogia, se compadece
miscigena ideias e sensações entre o nascer e o por do sol
e quando o astro novamente brilha
se recicla, revive, vive,
Faz viver

Tradução de você

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Que presente você quer do seu amor?

Tem gente que pensa que presente é só de desembrulhar

É bom olhar de fora essa euforia, correria e desespero na busca de última hora pelo presente do dia dos namorados. O mais impressionante é que a data – assim como todas as outras forjadas pelo comércio para alavancar vendas – é anunciada desde trinta segundos após o término do dia das mães; as propagandas voltadas aos pombinhos começam a ser veiculadas assim que você entrega o presente da madre.


De qualquer forma, quem é que não gosta de ganhar presentes, seja lá que dia for? Pena que a conversa aqui esbarra na famigerada e ostensiva forma de incutir na cabeça dos menos avisados, que o presente é uma obrigação ética, moral e terminantemente obrigatória, tudo isso traduzido em objeto, em material; senão não vale. Conceitos como respeito, carinho, amizade, compreensão, parceria e, claro, amor, são usados nas propagandas apenas como pano de fundo para nos convencer a colocar a mão no bolso e consumir e consumir, desmedidamente.

A impressão que tenho é que se, eventualmente, não presenteamos com um objeto qualquer, todo o empenho, dedicação, atenção, amor e carinho demonstrados ao longo do tempo, de nada valeu. E o pior é que tem gente que pensa realmente assim. Entendo que o presente em forma de objeto é a representação materializada daquilo que sentimos por outra pessoa, no caso a amada, e não simplesmente um protocolo de atendimento a uma determinada data chancelada pelo capitalismo selvagem.

Neste dia dos namorados, seria legal se as pessoas dessem presentes embrulhados que causam surpresa ao serem abertos, mas que, antes de tudo, simbolizassem amor, carinho, compreensão, parceria, etc., etc., etc. Que fossem troféus de honra ao mérito.

Pense nisso

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma inspiração


Tem dias que acordo Caetano
Em outros Vinícius ou Carlinhos Brown
Há dias em que acordo Erasmo
Em outros, precedidos por noites agitadas, acordo Rita Lee
Já acordei Tim Maia, Toquinho e, redundantemente, “Seu Jorge“ ou Benjor
Em dias chuvosos, por mais que me esforce, só acordo Paulo Diniz
Porém, nos de sol sou Samuel Rosa
Posso acordar Marcelo Nova, Marisa Monte, Taiguara, Ana Carolina
Há dias em que sou apenas um pobre amador, quando acordo Tom Jobim
E se a vida me surpreende,
Quando a ligação dura três horas
Acordo Chico César
Lenine, Elis
Sandra de Sá
Se ela me oferece mais uma dose
Acordo Frejat
Por que a gente é assim?
Hoje acordei você