quinta-feira, 8 de julho de 2010

Certa vez escrevi um texto que fala sobre as músicas e artistas que fazem sucesso repentino e desaparecem mais repentinamente ainda.
Relendo o dito cujo, notei que fiz a citação de um livro de Martha Medeiros, intitulado "Crônicas do Cotodiano". Ó que lindo: é o nome desse Blog que vc está lendo neste momento. Mas juro, acredite. Eu não plagiei ninguém.

Então lá vai o texto, caso você - astuto leitor - disponha de um tempinho pra dispensar comigo.

É melhor do que ser surdo


“A cultura de uma pessoa pode ser medida através da música que ela ouve”

Que uma coisa fique bem clara: eu não tenho a menor vocação para poeta, cantor ou compositor, portanto nunca me atrevi a escrever, sequer, uma linha que se encaixe em um desses gêneros e na única vez que arrisquei um Cartola no caraokê, o vexame foi tamanho que parei de cantarolar até debaixo do chuveiro, seriamente traumatizado com o ruído das vaias.

Dito isso, me sinto no direito de tecer qualquer comentário e – assim como no futebol, onde cada um se sente um pouco técnico da equipe pela qual torce – desfiar minha veia crítica musical, sem qualquer remorso.

Pois bem. Tenho observado a baixíssima qualidade das músicas executadas diariamente nas rádios brasileiras e exaustivamente repercutidas nas mais diversas camadas da sociedade. São verdadeiras aberrações, apologias ao consumo de álcool, drogas e ao crime; sem contar a fraca musicalidade, que geralmente é constituída de batidas eletrônicas, produzidas em sintetizadores e por pessoas que desconhecem completamente o significado de um “lá maior”.

Porém, o que me deixa perplexo são as letras. Algumas falam, falam e acabam por não dizer absolutamente nada; outras além de não falarem nada que preste, ainda reverberam sonoros palavrões, dignos de enrubescer o porteiro do inferno, mas que são cantadas em alto e bom som até por crianças, devidamente acompanhadas e incentivadas pelos pais. E se tiver um “rebola, vai”... sem comentários.

Não sei de onde tiram tanta baboseira e qual é a fonte de onde jorram tamanhas asneiras. Assim a indústria do politicamente incorreto cresce vertiginosamente, como sugerem os inúmeros lançamentos rádio e teledifundidos diariamente.

Tenho um amigo que diz (coberto de razão) que a cultura de uma pessoa pode ser medida através da música que ela ouve. Eu vou mais além e, para isso tomo a liberdade de parafrasear a escritora Martha Medeiros*, que diz em uma de suas crônicas intitulada Paz e Amor: “Em televisão, mede-se o talento de uma pessoa pelo tesão que provoca. Em música, elegem-se ídolos de curta duração, cujo repertório se encaixe numa trilha de novela”. Ou seja, acabou a novela, findou o artista.

Quem é que não se lembra – só para citar um exemplo – do grupo “Só no sapatinho”, que cantou uma e tão somente uma música de título homônimo? Nem o cartucho do pai “Galinho de Quintino” foi suficiente para manter o filhote nas paradas. Por que? Simples falta de talento, só isso. Aposto que se tivesse cantado meia dúzia de palavrões o sucesso seria outro.


Não tem jeito: a cada novela, carnaval, reality show e cada vez que ligamos o rádio, a TV ou saímos à rua, compulsoriamente compartilhamos a macabra trilha sonora do sucesso descartável e de mau gosto.


Esse é o preço que pagamos por, graças a Deus, não sermos surdos.

Ó o livro do qual eu falei:
*Autora: Martha Medeiros
Título: Non-Stop – Crônicas do cotidiano
Editora: L&PM Editores  

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